É tão engraçado tudo o que está envolvido nos laços afetivos entre as pessoas. Ali cabe tanto, desde o amor, até o ódio. A proximidade nos coloca perto do melhor e do pior de cada um. Lidar com isso tudo é que são elas.
Ninguém explica direito o que nos faz gostar de alguém. Uns dizem se tratar de química cerebral, outros dizem ser algo espiritual, ou quântico, assim como há quem afirme ser coisas do coração mesmo. A questão é que a gente acaba gostando de pessoas e nem tenta entender o porquê, apenas vai chegando perto para ali ficar junto. Para sempre ou não.
E ficar junto de alguém, em qualquer tipo de relacionamento, requer aparar arestas continuamente. A gente tem que ir ajustando lá fora e se ajustando cá dentro, para que o andamento do caminho não emperre. É aí que fica clara a importância da sinceridade. Temos que ser sinceros e aceitar a sinceridade de quem está ao nosso lado. Nada dura se não houver transparência.
Porque é necessário respeitar e ser respeitado, e isso só acontece quando as pessoas são verdadeiras umas com as outras. Nada que seja fingido se sustenta por muito tempo. Por isso, nosso nível de tolerância deve ser explícito, ou acabaremos carregando peso extra aos que já são nossos por direito adquirido. Ninguém merece se encher com as tralhas dos outros.
Mas, quando o relacionamento se reveste de competitividade, aí as coisas desandam mesmo. Parceria não tem nada a ver com quem pode mais, com quem ganha mais, com quem é mais isso ou menos aquilo. Parceria tem a ver com comprometimento emocional, com responsabilidade sentimental, com reciprocidade e torcida. Sim, é preciso torcer pelo outro.
Infelizmente, muitos relacionamentos acabam exatamente porque uma das partes não soube lidar com o sucesso do parceiro. Vivemos numa sociedade tão competitiva, que, por vezes, acabamos trazendo essa competição para dentro de nós, para dentro de nossos lares, de nosso círculo de amizades. Enxergamos o outro, mesmo quem amamos, como um oponente, alguém que pode nos vencer, sabe-se lá por que razão. E, assim, em vez de aplaudirmos as conquistas das pessoas, muitos se sentem menos, diminuídos, menores. A tal da inveja.
Parece inconcebível, mas as pessoas são capazes de sentir inveja de quem amam, sim. Talvez seja um sentimento inerente à condição humana, talvez seja uma forma de não se entregar por completo, talvez seja insegurança e baixa autoestima. Ou tudo isso junto. Cabe-nos digerir esse sentimento, transformando-o em admiração. Pessoas que se admiram permanecem juntas.
Por essas razões, é mais fácil receber elogios de estranhos do que de pessoas próximas. A muitos, é extremamente difícil torcer pelo sucesso do colega, do parente, do amante. A inveja nunca é declarada, mas a gente percebe. É isso.
Imagem: Jake Young