O amor não é simples. Amar é uma delícia, é necessário, mas não é tranquilo. Quando a gente ama a pessoa, tudo dela parece também ser da gente. Sua felicidade e sua tristeza. O que ela conquista, o que ela perde. O que nela é prazeroso, o que nela dói. Amar é sair um pouco de si, para dar espaço ao que é do outro. E vem de tudo nesse acolhimento, inclusive o que não é muito bom.
É humanamente impossível, por exemplo, que pais consigam estar bem, quando o filho está passando por algum problema. Da mesma forma, se um amigo muito querido ou o companheiro sofrem, não conseguimos nos desligar totalmente do que lhes acontece. É essa a contrapartida mais difícil do amor. É essa uma das mais dolorosas formas de vivenciar as etapas amorosas de nossas vidas.
Não tem por onde, quando trazemos alguém para nossas vidas, temos que abraçar tudo o que vem junto. Ninguém é perfeito, ninguém possui só levezas dentro de si, e os pesos emocionais que não são nossos acabam, de certa forma, atingindo-nos também. Relacionar-se tem dessas coisas. Relacionar-se implica abrir mão, renunciar, doar-se, olhar dentro dos olhos de quem, muitas vezes, clama por ajuda.
É claro que jamais poderemos nos esquecer de nós mesmos nesse caminho. Se não estivermos inteiros, não conseguiremos interagir com o outro de uma forma saudável, nem seremos capazes de ajudar a quem precisa. Não podemos é nos despedaçar ou nos anular em favor do outro. Não podemos é abrir mão da reciprocidade que deve pautar todo e qualquer tipo de relacionamento que tivermos. Isso, sim, seria imperdoável.
O mundo carece de empatia, mas muitos de nós carecemos também de amor-próprio. A gente tem que se amar o bastante para não ter um emocional quebrado por conta do que é da alçada do outro. Eu preciso ter empatia, mas não posso carregar, dentro de mim, sofrimentos que eu não causei. Eu devo ajudar as pessoas, mas não serei responsável pelos erros delas. É isso.
Imagem: Adrianna Geo