Não domino o assunto com propriedade, mas, por experiências e leituras várias, posso afirmar que se relacionar com uma pessoa narcisista é avassalador, uma das piores experiências que o ser humano pode ter. E, ainda pior, esse relacionamento será muito incompreendido pelas pessoas e julgamentos, na maioria das vezes injustos, acontecerão com frequência.
Nos relacionamentos abusivos, o manipulador leva o outro a acreditar que merece tudo o que sofre. A pressão psicológica e as tramas que o parceiro encena acabam convencendo a vítima de que ela é errada, é louca. E ela fica ali presa, convencida de que provocou aquilo tudo. A vítima tem certeza de que merece ser tratada daquele jeito. Ela nem chega a questionar o porquê daquele tratamento cruel, ela simplesmente aceita.
A gente é capaz de se apegar ao que não faz bem. Isso acontece quando nosso emocional está em frangalhos. Os narcisistas têm o faro apurado para reconhecer a vulnerabilidade das pessoas. E é exatamente a fraqueza do outro que será usada como instrumento de conquista e do terror que virá em seguida. Todas as táticas de violência psicológica usadas pelo manipulador serão embasadas pelos pontos fracos da vítima.
O narcisista faz a pessoa acreditar que ela vale pouco, que ela não tem futuro, que ninguém gosta dela. Ele convence a vítima de que, sem ele, ela não será capaz de ser feliz, porque ela é incapaz de ser amada, como se ele estivesse fazendo um favor para ela, permanecendo no relacionamento. São artimanhas psicológicas que enfraquecem a vítima e, ao mesmo tempo, fazem com que ela se torne cada vez mais dependente de seu algoz. É uma dinâmica cruel, por isso é tão incompreendida por quem assiste de fora.
A vítima também mantém o relacionamento dolorido, na esperança de que o outro vá mudar. Mas nunca vem essa mudança, que o narcisista sempre promete. Conheço uma pessoa que está viúva há anos e ainda sofre muito, tem saudade do parceiro. Detalhe: ele era abusivo. A manipulação feita pelos narcisistas é cruel e duradoura. É o apego à pedra em que se tropeça. Não julgue.
Imagem: Johann Walter Bantz