Se pudéssemos congelar os esparsos momentos de felicidade que pontuam nossas vidas, seríamos constantemente felizes, mas não por muito tempo. Assim como em tudo o mais, a constância acaba por se tornar entediante e incapaz de suscitar algum tipo de carga emocional ou de aprendizado.
Somos movidos por desafios, pela construção de sonhos que idealizam um amanhã melhor e mais feliz. Caso alcancemos tudo o que queremos, paralisaremos, mantendo-nos estagnados no vazio do comodismo insosso. É preciso andar na escuridão, para que a luz seja suficientemente sorvida por nossos sentidos e para que a gratidão nos alimente a alma, tornando-nos mais humanos e solidários com as dores alheias.
A dor é necessária, pois nos força a olhar para além de nós mesmos, tanto para aplacarmos nosso cansaço, quanto para podermos pedir ajuda. Tomarmos consciência de que sempre poderemos necessitar da ajuda de outrem impede-nos o mergulhar solitário no egoísmo que isola e fere. É preciso estender as mãos, para resgatarmos e sermos resgatados dos vendavais que vez ou outra assolam a vida de todos nós.
Os momentos de tristeza são também úteis para nos levar ao enfrentamento das consequências de nossas escolhas, às quais não se foge. Essa dolorida conscientização acerca da inevitável colheita, de acordo com o que plantamos, ainda que nos devaste, liberta-nos das amarras vãs que nos prendem à busca cega por um mundo de aparências que não preenchem os anseios de nossas almas, visto que nos afastam daqueles que nos amam verdadeiramente.
Sofrer faz parte da vida de todos nós e, por mais que nos sintamos feridos e impotentes em meio ao torvelinho emocional, as dores acabarão por nos tornar mais fortes e lúcidos, bem como mais certos do que e de quem realmente vale a pena. Demore ou não, a dor passará e, então, o que restará de nós e dentro de nós será cada vez mais forte, mais real, mais humano. As dores, afinal, nos ensinam a jamais desistirmos das pessoas verdadeiras, dos sonhos reais e, sobretudo, a nunca, em hipótese alguma, desistirmos de nós mesmos.
Imagem: Lucas Sankey