Hoje, proliferam, nas redes, pessoas dispostas a levantar o ânimo da gente, vendendo cursos e mentorias, muitas delas, inclusive, sem ter formação para isso. Dentre tais positividades (muitas vezes tóxica), costuma estar a máxima de que as pessoas nos tratam conforme nós permitimos. Eu acho tão cruel falar isso.
Primeiramente, ninguém quer ser maltratado, ninguém gosta de ser passado para trás, traído, humilhado. Ou seja, ninguém daria permissão para que invadissem sua vida de forma violenta e grosseira. Na verdade, a pessoa não permite, mas, muitas vezes, ela está tão vulnerável e desestabilizada por dentro, que ela não possui instrumentos emocionais suficientes para se proteger da maldade invasiva do outro.
É fato que as pessoas narcisistas têm um faro especial para perceber quando o outro está em frangalhos e pode vir a ser a vítima de seus abusos. Elas vivem disso, de se valer das fraquezas alheias para infernizar quem não tem condições psicológicas de se defender ou de discernir com coerência o seu comportamento. São aproveitadores emocionais da pior espécie e prontos a atacar o alvo de suas maldades.
Quando não estamos bem, inclusive, e lemos essas mensagens que exageram na maneira como praticamente nos empurram a obrigação de estarmos felizes, proativos e bem resolvidos, acabamos nos sentindo muito mal. Reequilibrar-se emocionalmente requer várias atitudes, comportamentos e certas coisas que, às vezes, fogem ao nosso controle. Fica difícil, por exemplo, impormos limites, quando o outro vive ultrapassando todo e qualquer limite, indiscriminadamente.
Por isso mesmo, eu não acho que as pessoas nos tratam conforme a gente permite. Na verdade, elas agem de acordo com o que possuem dentro de si, elas dão o que têm. Você pode tentar impor limites, indignar-se, desenhar, nada freia o comportamento de quem não enxerga além do próprio umbigo.
Imagem: Daniel Igdery