“As vantagens de ser invisível” é um filme de 2012, baseado no romance de Stephen Chbosky, que roteirizou o seu filme e acabou dirigindo-o também. O filme, recheado com trilha sonora composta de clássicos retirados, em sua maior parte, dos anos oitenta, foi aclamado pela crítica, em especial quanto à impecável atuação dos atores que protagonizam as desventuras de Charlie.
O enredo parte de uma premissa básica, a de que é muito perigosa a passagem pela adolescência, principalmente em um país onde a prática do “bullying” é praticamente cultural. Afora ter de enfrentar as dificuldades de ajustamento em um ambiente em que se sente desajustado, o protagonista luta contra os fantasmas internos que carrega dolorosamente, em conseqüência do suicídio de seu melhor amigo e dos abusos sofridos na infância.
Às duras penas, Charlie acaba por perceber que não existe vantagem em ser invisível, mesmo que haja certo comodismo nessa situação. A zona de conforto ilude de forma perversa, pois o que parece agradável na verdade implica o afundamento de si mesmo nas escuridões das quais se quer sair desesperadamente. Mesmo que doa, é preciso atravessar o confronto do que somos com o que o mundo espera que sejamos. É assim que nos tornamos gente grande.
Ser invisível nada mais é do que não ser, não existir, respirar com dificuldade os ares da rejeição e da carência extrema. É tentar se anular enquanto pessoa, matando inutilmente tudo o que pulsa aqui dentro, clamando por uma saída, implorando por sair para a vida. Quando nos sentimos desprovidos de alguma coisa que preste, porém, não aceitamos sermos merecedores de vida, de prazer, de nada nem de ninguém.
Por menos que pensamos ter, sempre haverá algo de nós a ser doado, a ser experenciado por alguém, que então compartilhará sentimentos verdadeiros conosco. Essa partilha afetiva é necessária, mesmo que nos decepcionemos, mesmo que sejamos usados, mesmo que encontremos a dor e a maldade nesse percurso. Somente dessa forma, interagindo com o exterior, é que calibramos e acalmamos um interior em desordem.
Ao final do filme, temos a sensação de que precisamos ser mais o que somos, fazer mais burradas, errar mais, ousar, porque é assim que nos desfaremos dos pesos inúteis que emperram o nosso caminhar, pois assim aprendemos de verdade. Não podemos permitir que nossos medos limitem os nossos sonhos, nem que os outros nos definam, afinal, somos nós que temos a obrigação de saber o quanto somos especiais, únicos e merecedores de amor inteiro. Menos do que isso, não poderemos, jamais, aceitar.
As pessoas nos tratam de acordo com o que elas são.