Talvez uma de nossas maiores dificuldades seja a seleção daquilo que deve ou não fazer parte de nossas vidas. Esse discernimento sobre o que importa ou não, sobre o que deve ser levado em conta ou não, será uma de nossas maiores armas contra aquilo que tenta permanecer inutilmente em nossa jornada.
É difícil a gente conseguir naturalmente parar de pensar em alguém ou em algo, quase impossível. A nossa carga humana, aquele medo de rejeição que vem junto desde nossa infância, a afetividade que nutrimos em relação ao mundo e às pessoas lá fora, tudo isso nos torna seres com sentimentos à flor da pele. E lidar com o que sentimos é um exercício diário, numa eterna luta entre a emoção e a razão.
Logicamente, não conseguiremos deixar de nos importar com algumas pessoas e com certas situações, porque nossa ligação afetiva com aquilo tudo é forte demais, é intrínseca à nossa vida. Os elos emocionais solidificados ao longo de nossa caminhada acabam fincando raízes emocionais e afetivas que criam morada em nossos corações. Tentar se desligar do que faz parte do que temos dentro de nós é doloroso demais.
Mesmo assim, será necessário que consigamos perceber o que está nos tomando tempo demais, as pessoas que estão nos deixando preocupados demais, para que consigamos analisar com clareza os porquês dessa imensidão de tempo dedicado, muitas vezes, ao que nada mais são do que causas perdidas. A gente não merece se machucar por conta de quem não sabe o que é gratidão, reciprocidade, parceria, lealdade.
Nós precisamos nos poupar. Nós precisamos nos resguardar. Nós precisamos estar em paz. Às vezes, portanto, a gente terá que deixar de se importar. Pode parecer meio cruel, mas essa atitude salva. Tem gente que só vai acordar para a realidade quando perceber que sua atitude afasta as pessoas. Temos que dar importância ao que realmente importa. É isso.
Imagem: Erriko Boccia