São muito interessantes as ideias relacionadas ao ócio, parece que se trata de um comportamento vergonhoso a ser evitado. É como se devêssemos ser proativos desde o despertar até o adormecer. A glamourização da vida corrida, sem tempo para dar um tempo, no entanto, faz muito mal. Muitas pessoas estão adoecendo e morrendo mais jovens, os males da alma crescem a olhos vistos, o mau-humor nos rodeia onde estivermos. Calma, gente.
Não raro, filmes, seriados e novelas apresentam cotidianos de pessoas bem sucedidas e que vivem para o trabalho. Têm uma rotina célere, mal têm tempo de se alimentar. Aquele lema de que tempo é dinheiro nos foi empurrado goela abaixo, a gente acreditou naquilo e agora vive apressadamente os dias, sem nem olhar para o formato das nuvens. Quase ninguém tem algum tempo de sobra mais, aliás, mesmo que tivesse, jamais seria confessado. Dá vergonha.
Lembro-me de que, na minha infância, as pessoas conseguiam se sentar para tomar café da tarde durante a semana. Meu pai conseguia tirar um cochilo rápido no horário de almoço. As noites eram, na sua maioria, livres. Famílias sentavam-se nas calçadas, iam a pracinhas, enquanto os filhos brincavam. A gente tinha tempo de criar vínculos com vizinhos. Hoje, existem famílias que nem se cumprimentam e moram no mesmo prédio.
Eu sei que a gente precisa sobreviver e, para isso, muitas vezes acumulamos empregos e bicos. Porém, a gente precisa prestar mais atenção na qualidade de nossa vida fora do material. O que sobra além disso? Não tem organismo que dê conta de se sustentar sem descanso, lazer e higiene mental. Não tenha vergonha de não fazer nada de vez em quando. Fique em casa, leia um livro, assista a séries, durma a tarde todinha, quando puder, sem culpa.
Eu adoro não fazer nada e não tenho o menor problema em dizer isso. Se pudesse, lotaria minha agenda com vários nadas. Aliás, nada é o que mais faço quando não tenho compromisso. Sem culpa. Leveza, gente.