Tempos difíceis, tempos de muita luta e superação. Essa pandemia nos forçou a enxergar, a abrir os olhos, a nos conscientizarmos sobre muita coisa, sobre muita gente. Ficou escancarado, à nossa frente, quem é quem, sem filtro. Percebemos o que e quem importa realmente em nossas vidas. Vimos as prioridades de cada um, a capacidade de se colocar no lugar do outro ou não.
O medo nos acompanhou, fazendo parte constante de nossos dias. A morte estampava as mídias. Todos tomavam partido, gritavam posicionamentos, atacavam quem pensava diferente. Pessoas se afastaram, famílias se desencontraram, a configuração dos relacionamentos teve que se adequar aos novos tempos. Fomos obrigados a buscar uma forma de não enlouquecer, de não sucumbir às incertezas, às escuridões, a tudo o que estava ficando explícito, quando antes ninguém notava.
E, nesse contexto de incertezas crescentes, cada um se virou, à sua própria maneira, para que conseguisse sobreviver física e emocionalmente. A vida é imprevisível, sempre foi, mas ela se tornou ainda mais inesperada e caótica – ou, ao menos, essas características não puderam mais ser ignoradas. A gente teve que perceber que existem coisas mais importantes do que outras. Existem pessoas mais importantes do que outras. Existem pessoas sem nenhuma importância em nossas vidas.
E acabamos tendo que entender quais são as nossas prioridades, o que devemos levar em conta, quem merece nossa atenção. Ficou muito claro que costumamos perder preciosos tempos com o que nada acrescenta, enriquece, soma. E ignorar foi a estratégia de muitos. Ignorar gente chata, comentários maldosos, acontecimentos irrelevantes. Ignorar o que é perda de tempo, de saúde, de vida. Prestamos mais atenção no que realmente importa.
Por isso, ignorar é o caminho. A gente precisa ficar forte, a gente precisa ter um pouco de paz aqui dentro. Ignorar é um caminho sem volta. A pessoa se esforça ao máximo para nos atingir, mas mantemos a cara de paisagem e a plenitude. Podemos até ferver por dentro, mas a pessoa jamais saberá. Merecemos ter paz.
Imagem: Dmitry Vechorko