Qualquer tentativa de se conceituar a palavra inteligência é controversa. Isso porque, entre outras coisas, a inteligência não deve se desatrelar de sua prática, ou seja, trata-se de algo em constante movimento, passível de ressignificações constantes. Superestimada por uns, subestimada por outros, fato é que a inteligência, por si só, de nada vale.
Por muito tempo, eram consideradas inteligentes as pessoas que acumulavam conhecimento enciclopédico, que se saíam bem em provas de conteúdo livresco, com facilidade para decorar datas, dados, nomes de figuras renomadas no meio acadêmico. Nesse sentido, a inteligência se relacionava diretamente aos conteúdos dos currículos escolares.
Porém, o mundo mudou muito, as sociedades reorganizaram seus modos de vida e de se relacionar, surgindo, inclusive, novas configurações de se entender o que ocorre fora e dentro de cada um. Novas problemáticas apareceram, pedindo soluções novas também. Mais do que ter uma informação, é necessário conseguir utilizá-la na vida prática. Mais do que decorar conhecimentos, é preciso relacioná-los entre si.
O mundo de hoje clama, sobretudo, por empatia, por olhares mais amorosos, pelo entendimento da alma alheia, muito além de teorias e de equações. É preciso que o conhecimento nos torne mais humanos e torne as pessoas menos centradas em si mesmas, para que o coletivo sobreponha-se ao particular, para que o ódio neutralize-se sob a inteligência amorosa, empática, que entende e acolhe.
A humildade, nesse sentido, torna-se urgente, para que ninguém se sinta maior ou melhor do que o outro, para que ninguém destrua, exclua, diminua, para que a diversidade seja valorizada. A inteligência, quando não se acompanha de humildade, acaba se perdendo na arrogância, impedindo o diálogo, a troca, a mudança de ideias e de paradigmas enraizados em valores desconectados do que a vida humana hoje requer.
Sem humildade, não há amor. Sem amor, a ignorância prevalece. O mundo não merece isso. Aliás, ninguém merece.
Imagem: Andrey Zvyagintsev