Na maioria das vezes, a gente tem que quebrar a cara para aprender as lições sobre as pessoas, as atitudes, os comportamentos, sobre quem merece ou não o nosso melhor. Temos a mania de achar que algumas pessoas são melhores do que, na verdade, são. Investimos tempo e sentimento onde nada mais há do que vazio, deserto e escuridão. E a dor vem. E o ensinamento vem junto.

 

Acumulamos decepções demais ao longo de nossa jornada, lágrimas, dores e solidão. Não conseguimos alcançar todos os nossos sonhos, manter somente relacionamentos saudáveis, nutrir apenas sentimentos reconfortantes. E as contrapartidas dolorosas nos arrebatam sem piedade. É assim com todo mundo. Ninguém acerta o tempo todo. A questão é o que fazer com o que vem derrubando, com quem fere e machuca a nossa alma.

 

A dificuldade acontece porque, quando estamos feridos e decepcionados, ficamos enfraquecidos, sem forças para analisar aquilo tudo de uma forma que nos leve a prosseguir e a vislumbrar as possibilidades que continuam ali na nossa frente. Permanecemos muito tempo agarrados às ilusões de que o que não era para ter sido teria que ter sido, de que não conseguiremos nada melhor, de que nada mais fará sentido. Esquecemos a sistemática da vida, que sempre nos permite recomeçar, que sempre nos permite amanhecer.

 

 

A dor é egoísta, ela nos obriga a focar nela, somente nela. Por isso, temos que nos forçar, quando houver escuridão, a olhar além de nós, a sair de dentro da gente, e tentar enxergar lá fora . É lá que está a cura. É lá que estão os horizontes. É lá que teremos respostas. Para sair da dor, temos que sair do lado de dentro. Temos que conseguir perceber tudo o que nos espera, tudo o que poderá nos abraçar e nos confortar. Lá fora.

 

É assim que a gente se fortalece. Foi assim que eu sempre consegui me desvencilhar do que me feria. Não é fácil, mas é possível. Existem lugares para onde eu nunca mais voltarei. Existem pessoas com quem nunca mais conversarei. Existem atitudes que nunca mais permitirei. Essas poucas certezas já me confortam.

 

Imagem: Erik Odiin