Minha referência de mundo é minha mãe. Quando começo a escrever sobre mim, ela me vem, junto com seus cheiros, suas músicas, filmes, livros, suas orações. Ela me ensinou a orar. A gente assistia aos filmes sobre a vida de Jesus, em todas as páscoas de minha infância. Eu cresci com minha mãe sendo um exemplo de bondade e de altruísmo, no mais belo sentido cristão dessas palavras.
Daí a minha fé, a minha crença numa força superior que reina e tem o poder de nos ampara, nas mais infinitas escuridões. Eu sou meio egoísta, confesso, mas minha fé não. Eu estendo minhas esperanças às pessoas, aos animais, à natureza, ao mundo. Eu mantenho a fé na humanidade, por mais que seja difícil hoje em dia. Eu nunca a deixei de lado, nem nas piores dores que me pudessem fazer questionar a existência de um Deus, como a perda de minha mãe.
Minha mãe foi catequista por um tempo, mas eu já tinha feito a primeira comunhão, então, não pude ser seu aluno. Como queria ter sido. Mas ela foi minha professora da vida, minha maior fã, os olhos que enxergaram o melhor em mim. Ela foi as mãos que me davam o abraço mais carinhoso, num colo absurdamente confortável. E esse amor da gente me ajudou ainda mais a crer num Deus de amor, porque quem inventou as mães só pode ser um ser divino.
Mesmo quando ela lutava contra o câncer, sua fé era inabalável. Uma vez, quando ela estava acamada, nos últimos dias de vida, com os olhinhos fechados, naquele restinho de vida que carregava, eu perguntei no que ela pensava. Ela me respondeu que orava muito e se lembrava da infância, das missas, das procissões. Ela carregava ali dentro tanta devoção, que aquilo tudo tinha que transbordar de alguma forma, e bastante transbordou em mim.
E essa religiosidade que eu herdei de minha mãe não é punitiva. É amorosa, reconfortante, acolhedora e empática. Ela não me faz julgar, mas sim tentar entender e me colocar no lugar das pessoas. Ela me torna mais acessível a respeitar aquilo que desconheço, com que posso até discordar, mas respeito. Porque são tantas visões de mundos, de tantos mundos, que querer a própria verdade como absoluta é absurdo. Basta olhar fora de si para perceber que do que menos as pessoas precisam é de condenação e de recriminação. O mundo carece de amor.
Tudo bem você cuidar da aparência. Só não julgue ninguém por ela. Tudo bem você fazer mil cursos. Só não julgue ninguém por eles. Tudo bem você professar sua religião. Só não julgue ninguém por ela. Temos que ser quem inspira e não quem recrimina. Temos que tentar trazer esperança e não desesperança. Temos que tentar ser consolação e não aflição. Não é fácil, mas é urgente.
E a fé em Deus nada mais é do que isso: acreditar no poder do amor e da esperança. Jesus perdoou, ensinou, ajudou, foi luz em meio à escuridão daqueles que nada tinham e continua sendo luz na vida de muitos, inclusive na minha. Sem essa fé, eu já teria sucumbido a essa vida que bate na gente sem parar. Eu não seria nem sombra do que sou hoje.
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